As Melhores Práticas para Escrita de Roteiros

Pintura moderna e estilizada mostrando as máscaras do teatro e um roteiro, para o artigo sobre melhores práticas para escrita de roteiros.

A escrita de roteiros é uma arte e uma técnica que exige criatividade, planejamento, pesquisa e domínio da linguagem audiovisual. Não há uma fórmula mágica para criar uma história envolvente, original e bem estruturada, mas existem alguns princípios e ferramentas que podem ajudar os roteiristas a desenvolverem suas ideias e transformá-las em roteiros muito bons.

Vou conversar contigo sobre algumas dicas essenciais, baseadas em quatro livros de referência sobre escrita de roteiros: “Story: Substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro” de Robert McKee, “Manual do Roteiro” de Syd Field, “Da Criação ao Roteiro: Teoria e Prática” de Doc Comparato e “A Arte do Cinema: Uma Introdução” de David Bordwell e Kristin Thompson. Esses livros abordam diferentes aspectos do processo de criação e elaboração de um roteiro, desde a concepção da ideia até a formatação final. No presente texto vou focar na concepção, na estruturação da trama, dos personagens, das cenas.

Vamos ver, então, o que esses autores têm a nos ensinar sobre escrita de roteiros.

Defina a premissa da sua história

A premissa é a ideia central da sua história, aquilo que resume o tema, o conflito e o objetivo do seu protagonista. A premissa deve ser clara, concisa e instigante, capaz de despertar o interesse do leitor ou espectador.

Segundo Robert McKee, a premissa deve responder à pergunta: “O que aconteceria se…?”. Por exemplo: “O que aconteceria se um tubarão gigante atacasse uma ilha turística?” (Tubarão), “O que aconteceria se um policial se infiltrasse na máfia italiana?” (Os Infiltrados), “O que aconteceria se um casal se apaixonasse durante o naufrágio do Titanic?” (Titanic).

A premissa deve ser específica e delimitar o gênero, o cenário, os personagens principais e o conflito da sua história. Evite premissas genéricas ou vagas, que não definem bem o que você quer contar.

Escrevi um artigo sobre a construção de mundos ficcionais que tem tudo a ver com o cenário, o background de sua trama, não deixe de ler.

Desenvolva os personagens

Os personagens são os elementos mais importantes da sua história, pois são eles que vão conduzir a ação, gerar o conflito e provocar a emoção no público. Por isso, é fundamental que você conheça bem os seus personagens, suas motivações, personalidades, históricos, relações e objetivos.

Syd Field propõe que você faça uma ficha para cada personagem, respondendo a perguntas como: quem é ele? O que ele quer? Por que ele quer? Como ele vai conseguir? O que está em jogo? Quais são seus pontos fortes e fracos? Quais são seus conflitos internos e externos?

Além disso, é importante que você defina o arco de transformação do seu protagonista, ou seja, como ele vai mudar ao longo da história, em função dos obstáculos e desafios que enfrenta. O arco de transformação deve ser coerente com a premissa e o tema da sua história, e mostrar como o personagem evolui ou regride em sua jornada.

Para profundar-se nas técnicas literárias para construção de personagens, confira o artigo que escrevi detalhando o processo.

Estruture a trama

A trama é a forma como você organiza os eventos da sua história, criando uma sequência lógica e causal de cenas que conduzem ao clímax e à resolução. A trama deve ser consistente, verossímil e surpreendente, mantendo o interesse e a tensão do público.

Doc Comparato sugere que você divida a sua trama em três atos: o primeiro ato apresenta os personagens, o cenário e o conflito principal; o segundo ato desenvolve o conflito, aumentando os obstáculos e as complicações; o terceiro ato resolve o conflito, mostrando as consequências e as lições aprendidas.

Cada ato deve ter um ponto de virada, ou seja, um evento que muda a direção da história e aumenta o grau de dificuldade para o protagonista. O primeiro ponto de virada ocorre no final do primeiro ato, quando o protagonista aceita ou se envolve no conflito principal. O segundo ponto de virada ocorre no final do segundo ato, quando o protagonista enfrenta a maior crise da história, que o leva ao clímax. O clímax é o momento de maior tensão e emoção da história, quando o protagonista resolve o conflito de forma definitiva.

Escreva as cenas dos seus roteiros

As cenas são as unidades básicas da sua história, abaixo delas somente os “beats”, que são as ações e reações protagonizadas pelos personagens, quando estes trocam de comportamento. Elas mostram as ações e os diálogos dos personagens em um determinado tempo e espaço. E devem ser curtas, dinâmicas e relevantes, avançando a trama e revelando os personagens.

Sugiro que leia o seguinte artigo sobre ELA, a Primeira Cena ou CENA DE ABERTURA: https://www.studiobinder.com/blog/screenplay-opening-scene-example/ pois ela merece uma atenção especial, como o artigo diz: “boas histórias são sempre notadas e boas cenas de abertura são um grande motivo para isso”.

David Bordwell e Kristin Thompson recomendam que você escreva as cenas seguindo a estrutura clássica de início, meio e fim. O início da cena estabelece o contexto, o meio da cena desenvolve o conflito e o fim da cena provoca uma mudança ou uma consequência. Cada cena deve ter um objetivo dramático, ou seja, um propósito narrativo que justifique a sua existência na história.

Além disso, você deve cuidar da transição entre as cenas, criando uma conexão lógica ou emocional entre elas. Você pode usar técnicas como cortes, elipses, flashbacks, flashforwards, dissolves, fades, etc., para criar efeitos de continuidade ou contraste entre as cenas.

Ainda não conhece? Veja mais alguns detalhes

  • Cortes: são as mudanças bruscas de uma cena para outra, sem nenhum efeito especial. Os cortes podem ser usados para indicar mudanças de tempo, espaço ou ponto de vista dentro da narrativa. Por exemplo, um corte pode mostrar o que está acontecendo em outro lugar ao mesmo tempo que a cena anterior, ou pode avançar ou retroceder no tempo para mostrar eventos relevantes para a trama. Os cortes devem ser feitos de forma a não confundir o espectador, mas sim a criar um sentido de continuidade e lógica entre as cenas.
  • Elipses: são as omissões de partes da narrativa que não são essenciais para o entendimento da história. As elipses podem ser usadas para acelerar o ritmo da narrativa, pulando cenas que seriam repetitivas, irrelevantes ou entediantes. Por exemplo, uma elipse pode mostrar apenas o início e o fim de uma viagem, sem mostrar todo o trajeto, ou pode mostrar apenas o resultado de uma ação, sem mostrar como ela foi realizada. As elipses devem ser feitas de forma a não deixar lacunas na narrativa que prejudiquem a compreensão do espectador.
  • Flashbacks: são as cenas que mostram eventos passados que têm relação com o presente da narrativa. Os flashbacks podem ser usados para revelar informações sobre os personagens, seus motivos, seus conflitos ou seus segredos. Por exemplo, um flashback pode mostrar um trauma, uma lembrança ou uma revelação que explique o comportamento ou a personalidade de um personagem no presente. Os flashbacks devem ser feitos de forma a não quebrar a tensão da narrativa presente, mas sim a aumentar o interesse e a curiosidade do espectador.
  • Flashforwards: são as cenas que mostram eventos futuros que têm relação com o presente da narrativa. Os flashforwards podem ser usados para criar expectativa, suspense ou surpresa no espectador, mostrando o que vai acontecer ou o que pode acontecer com os personagens ou com a história. Por exemplo, um flashforward pode mostrar uma cena de perigo, de sucesso ou de fracasso que ainda não aconteceu no presente da narrativa. Os flashforwards devem ser feitos de forma a não tirar a emoção da narrativa presente, mas sim a intensificar o envolvimento do espectador.
  • Dissolves: são os efeitos especiais que fazem uma cena se fundir gradualmente com outra cena. Os dissolves podem ser usados para indicar passagem de tempo, mudança de lugar ou transição entre realidade e imaginação. Por exemplo, um dissolve pode mostrar o anoitecer ou o amanhecer, a troca de cenário ou a entrada em um sonho ou em uma memória. Os dissolves devem ser feitos de forma a não distrair o espectador do conteúdo das cenas, mas sim a criar uma atmosfera adequada à narrativa.
  • Fades: são os efeitos especiais que fazem uma cena escurecer ou clarear até desaparecer ou aparecer na tela. Os fades podem ser usados para indicar início ou fim de uma sequência, capítulo ou obra audiovisual. Por exemplo, um fade in pode mostrar o começo de uma história ou de uma parte dela, enquanto um fade out pode mostrar o final de uma história ou de uma parte dela. Os fades devem ser feitos de forma a não interromper abruptamente a narrativa, mas sim a dar um sentido de conclusão ou continuidade à obra audiovisual.

E essas são apenas algumas das técnicas mais comuns de corte e de narrativa em roteiros para obras audiovisuais.

Formate o roteiro

Ele é o documento final que contém a sua história escrita em um formato padrão, que facilita a leitura e a produção do filme. Seu roteiros deve seguir as normas estabelecidas pela indústria cinematográfica, que definem aspectos como fonte, margens, espaçamento, paginação, cabeçalhos, etc.

O roteiro deve conter os seguintes elementos essenciais: capa, sinopse, ficha técnica, índice de cenas, descrição das cenas e diálogos dos personagens. A capa deve ter o título da obra, o nome do autor e os dados de contato. A sinopse deve resumir a premissa, os personagens principais e a trama da história em um ou dois parágrafos. A ficha técnica deve listar os nomes dos profissionais envolvidos na criação e produção do roteiro. O índice de cenas deve numerar e ordenar as cenas do roteiro. A descrição das cenas deve indicar o local, o tempo e a ação dos personagens em cada cena. Os diálogos dos personagens devem ser escritos em linhas separadas, com o nome do personagem centralizado acima do texto.

Em breve, falaremos mais sobre isso.

Existem softwares específicos para formatação de roteiros, como Final Draft, Celtx, Movie Magic Screenwriter, Scrivener, etc., que facilitam o trabalho do roteirista e garantem a padronização do documento.

É muito importante, também, que você compreenda a profissão do ator, da atriz. Aquilo que os move, e então dar espaço e condições, em seus roteiros, para que esses grandes profissionais possam contribuir com sua obra. Para isso escrevi um artigo sobre como escrever o roteiro que permita grandes atuações, esse texto deve lhe interessar também.

A escrita de roteiros é…

Um processo complexo e desafiador, que exige dedicação, estudo e prática. Os livros citados neste artigo são apenas algumas das fontes que podem orientar e inspirar os roteiristas a criarem histórias de qualidade.

Quando eu publicar meu próximo artigo sobre a escrita de roteiros, este será mais prático, vou lhe mostrar como formatar seu roteiro e como de fato escrever sua história com cara de roteiro. Nos reencontraremos lá, até breve.

Por Wagner RMS.

As Melhores Práticas para Escrita de Roteiros
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