A era de ouro da ficção científica norte-americana é um período que abrange as décadas de 1930 a 1950, quando o gênero se consolidou e se popularizou, principalmente através de revistas pulp como Astounding Stories, Amazing Stories e Galaxy.
Um dos editores mais importantes e influentes da Era de Ouro foi John W. Campbell, que assumiu a Astounding Science Fiction em 1937 e a transformou na principal publicação de ficção científica da época. Campbell era um visionário que buscava elevar o nível literário e científico do gênero, exigindo dos autores histórias originais, bem escritas e baseadas em fatos e teorias verossímeis. O editor também incentivava os autores a explorar temas sociais, políticos, filosóficos e religiosos, além de criar mundos e personagens complexos e consistentes.
Campbell foi o mentor de vários autores que se tornaram famosos na Era de Ouro, como Isaac Asimov, Robert A. Heinlein, Arthur C. Clarke, Ray Bradbury, L. Sprague de Camp, Lester del Rey, Frederik Pohl, entre outros. Esses autores foram responsáveis por estabelecer alguns dos principais tropos e subgêneros da ficção científica, como a space opera, a ficção científica hard, as histórias de robôs, as distopias, as viagens no tempo, os alienígenas, etc.
Um dos fatores que contribuíram para o surgimento e o sucesso da Era de Ouro foi o papel da colaboração entre os diferentes agentes envolvidos na produção e na recepção da ficção científica: os autores, os editores e os leitores. Esses agentes formaram uma comunidade criativa e crítica que estimulou a inovação, a diversidade e a qualidade das obras do gênero.
Colaboração entre autores
Durante a era de ouro, muitos escritores de ficção científica se envolveram em colaborações significativas. Um exemplo notável é o grupo Futurians, formado por jovens escritores como Isaac Asimov, Frederik Pohl e Damon Knight. Eles se reuniam regularmente, trocando ideias e revisando o trabalho uns dos outros. Essa colaboração teve um impacto profundo na evolução da ficção científica, resultando em obras que moldaram o gênero.
Assim, muitos autores escreviam em parceria com outros, usando pseudônimos ou assinando com seus nomes reais. Alguns exemplos de colaborações são: Isaac Asimov e Robert Silverberg (colaboração que resultou em Nightfall, The Ugly Little Boy, The Positronic Man); Robert A. Heinlein e L. Sprague de Camp (The Magic Inc, The Green Hills of Earth); Arthur C. Clarke e Stephen Baxter (The Light of Other Days, Time’s Eye, Sunstorm); Ray Bradbury e Leigh Brackett (Lorelei of the Red Mist, The Blue Behemoth, The Stellar Legion); L. Ron Hubbard e A. E. van Vogt (Final Blackout, Slaves of Sleep, Typewriter in the Sky); entre outros.
A colaboração entre os autores tinha várias vantagens: permitia combinar diferentes estilos e habilidades literárias; aumentava a produtividade e a diversidade das obras; facilitava a troca de ideias e a revisão dos textos; criava uma rede de apoio e amizade entre os escritores; e atendia às demandas dos editores por mais material.
A colaboração também tinha alguns desafios: exigia uma boa comunicação e sintonia entre os parceiros; podia gerar conflitos de ego ou de visão artística; podia prejudicar a originalidade ou a identidade dos autores; e podia dificultar o reconhecimento ou a remuneração adequada dos envolvidos.
Mas, apesar dos desafios, as vantagens os superam.
Colaboração com editores
Os editores desempenharam um papel crucial no crescimento da ficção científica na era de ouro. Eles não apenas descobriram novos talentos, mas também trabalharam em conjunto com os escritores estabelecidos para aprimorar suas histórias. Os editores foram os responsáveis por selecionar, revisar, publicar e divulgar as obras de ficção científica nas revistas especializadas, que eram o principal meio de difusão do gênero na época. Eles também exerceram um papel de orientação, incentivo e desafio aos autores, estimulando-os a escrever histórias mais originais, criativas e consistentes.
Um exemplo notável é a parceria entre John W. Campbell, editor da Astounding, e o autor Isaac Asimov, ele sugeriu a Isaac Asimov a ideia de escrever sobre um império galáctico em decadência, que deu origem à série da Fundação.
Campbell incentivou o jovem Asimov e lhe forneceu muitos conselhos para aprimorar suas habilidades de escrita e narrativa. Uma dessas discussões resultou nas famosas três leis da robótica de Asimov, que se tornaram um marco na literatura e na ética da inteligência artificial. Asimov desenvolveu seu próprio talento literário, mas também aprendeu as regras da ficção científica “hard” sob a tutela de Campbell.
A colaboração entre Asimov e Campbell durou cerca de dez anos, de 1938 a 1948, período em que Asimov publicou algumas de suas obras-primas, como a já mencionada série Fundação, a série Robôs e o conto “O Fim da Eternidade”. Campbell também editou e publicou outros autores importantes da ficção científica, como Robert A. Heinlein, Arthur C. Clarke e L. Ron Hubbard.
Colaboração com leitores
A colaboração entre autores e leitores na Era de Ouro da Ficção Científica Norte-Americana foi uma forma de estabelecer uma comunidade e uma identidade em torno do gênero. Os leitores participavam ativamente da produção e da recepção da ficção científica, por meio de cartas, fanzines, convenções, clubes e prêmios.
Um exemplo de participação por meio de cartas foi a seção de correspondência das revistas pulp, onde os leitores enviavam suas opiniões, críticas, elogios e sugestões sobre as histórias publicadas. Muitas vezes, os próprios autores respondiam às cartas ou entravam em debate com os leitores. Essa interação criava um senso de proximidade e de pertencimento entre os fãs de ficção científica.
Um exemplo de participação por meio de fanzines foi a publicação de The Comet, em 1930, considerado o primeiro fanzine de ficção científica da história. Um fanzine é uma publicação amadora e independente, feita por fãs para fãs, que traz conteúdos relacionados a um determinado tema ou gênero. The Comet foi criado por Raymond A. Palmer e Walter Dennis, dois jovens leitores de ficção científica que queriam divulgar suas próprias histórias e as de outros fãs.
Leitoras e leitores unidos pela FC que curtem!
Um exemplo de participação por meio de convenções foi a realização da primeira World Science Fiction Convention (Worldcon), em 1939, em Nova York. Uma convenção é um evento que reúne fãs, autores, editores e outros profissionais ligados a um determinado tema ou gênero. A Worldcon é o maior e mais antigo evento dedicado à ficção científica no mundo, e acontece anualmente em diferentes países. Nela são entregues os prêmios Hugo e Nebula, os mais prestigiados do gênero.
Um exemplo de participação por meio de clubes foi a formação do Clube de Ficção Científica da Filadélfia (Philadelphia Science Fiction Society), em 1935, considerado o primeiro clube dedicado ao gênero nos Estados Unidos. Um clube é uma associação informal de pessoas que compartilham um interesse comum por um determinado tema ou gênero. O clube da Filadélfia se reunia mensalmente para discutir sobre ficção científica, assistir a filmes, ler livros e revistas, e convidar autores para palestras.
Assim, desde a Era de Ouro da Ficção Científica, é vital colaborar
A Era de Ouro da Ficção Científica Norte-Americana foi um período rico e fecundo para o gênero literário que explora as possibilidades e os desafios da ciência, da tecnologia e do futuro. Nesse período, a colaboração entre os envolvidos na produção e na recepção da ficção científica foi fundamental para o desenvolvimento e a consolidação do gênero.
Como entusiastas do gênero, devemos valorizar e encorajar a colaboração como uma força motriz para o crescimento contínuo da ficção científica, com carinho especial pela nossa praia, que é a FC literária. Com um amor mais profundo ainda pela nossa FC-BR, como por exemplo as obras audiovisuais da turma da Kilmerson Dreams Produções, o escritor Tadeu Loppara, autor paulistano que escreve Quãm e os Indícios Mortais e também o trabalho da autora carioca Laura Freignham, que escreve Nova Drasskun: O Despertar da Híbrida, afinal, vai haver brasileiros no futuro, vivendo coisas extraordinárias e enfrentando desafios, e precisamos tentar visualizar esse futuro antes que ele chegue!
Na prática, existe uma escrita feita em colaboração?
Vimos que colaborar é preciso, agora vamos criar obras coletivas na prática.
A escrita colaborativa é um processo iterativo e social que envolve uma equipe focada em um objetivo comum que negocia, coordena e comunica durante a criação de um documento comum. A escrita colaborativa pode seguir muitas estratégias diferentes, mas cinco são mais comuns:
- Defina o propósito e o escopo do projeto. Antes de começar a escrever, é importante que todas as autoras e autores estejam alinhados sobre o que querem fazer, por que querem fazer e como querem fazer. Qual é o gênero, o público-alvo, o estilo e o formato da obra? Qual é a ideia central, o tema, o conflito e a mensagem? Qual é o prazo, o orçamento, a divisão de tarefas e a forma de publicação? Estas são algumas das perguntas que devem ser respondidas em conjunto, para evitar confusões e conflitos no futuro;
- Escolha um sistema de gestão de autorias. Existem diferentes formas de organizar e distribuir as responsabilidades entre os autores, dependendo do tipo e da complexidade do projeto. Por exemplo, uma autora ou autor pode ser o líder ou o coordenador do grupo, definindo as diretrizes gerais e supervisionando o trabalho dos demais; ou os autores podem trabalhar de forma mais horizontal, compartilhando igualmente as decisões e as tarefas. Além disso, os autores podem escrever partes separadas da obra, que depois serão integradas e revisadas; ou podem escrever em conjunto, alternando ou complementando as contribuições de cada um. O importante é que todos os autores concordem com o sistema escolhido e respeitem os papéis e as atribuições definidos;
- Comunique-se efetivamente com os coautores e coautoras. A comunicação é essencial para o sucesso de qualquer projeto colaborativo, especialmente na escrita criativa, onde há muita subjetividade e interpretação envolvidas. Os autores devem se comunicar com frequência, clareza e respeito, usando os meios mais adequados para cada situação (e-mail, telefone, videoconferência, etc.). Os autores devem compartilhar suas ideias, dúvidas, sugestões e feedbacks com os coautores, buscando sempre o consenso e a melhoria da obra. As autoras e os autores devem também estar abertos a receber críticas construtivas e a fazer concessões quando necessário, evitando levar as questões para o lado pessoal ou se apegar demais às suas opiniões;
- Planeje e organize o processo de escrita. A escrita colaborativa requer mais planejamento e organização do que a escrita individual, pois envolve mais pessoas e mais etapas. Os autores e autoras devem definir um cronograma de trabalho, estabelecendo os prazos para cada fase do projeto (pesquisa, esboço, rascunho, revisão, edição, etc.). As escritoras e escritores devem também definir um método de trabalho, escolhendo as ferramentas e os recursos que vão usar para escrever, armazenar, compartilhar e editar os documentos (Microsoft 365, Google Docs, Dropbox, Scrivener, etc.). Autores e autoras devem ainda definir um padrão de qualidade, seguindo as normas gramaticais, ortográficas e estilísticas da língua portuguesa e do gênero literário escolhido;
- Revise e edite o texto em conjunto. A revisão e a edição são partes fundamentais do processo de escrita colaborativa, pois garantem a coerência, a consistência e a qualidade da obra final. Os autores devem revisar e editar o texto em conjunto, verificando se há erros, inconsistências, contradições, repetições, ambiguidades ou lacunas na narrativa. Os autores devem também verificar se o texto está de acordo com o propósito e o escopo do projeto, se atende às expectativas e às necessidades do público-alvo, se transmite a mensagem desejada e se tem um estilo próprio e original. Os autores devem fazer as correções e as melhorias necessárias, buscando sempre o equilíbrio entre as vozes e as visões dos coautores.
Trabalhando com um velho conhecido
Agora vou te mostrar uma das ferramentas possíveis para dar suporte à sua escrita colaborativa em mais detalhes, que terá como parte do pacote a ferramenta que 8 entre 10 escritoras/escritores usam, o velho e bom Word:
Aprenda a usar o Microsoft 365 para facilitar a escrita colaborativa. O Microsoft 365 é um conjunto de aplicativos e serviços que permite aos usuários criar, compartilhar e editar documentos online, em tempo real, com outras pessoas.
A ferramenta, que tem opção inicial online gratuita (nem todos os recursos mencionados abaixo podem estar disponíveis na versão online gratuita), funciona no celular, no computador e nos navegadores Web e inclui o Word, o Excel, o PowerPoint, o OneDrive, o SharePoint, o Teams e outros recursos que podem ajudar os autores de ficção literária a colaborarem entre eles. Veja a seguir um passo a passo de como usar o Microsoft 365 para escrever em conjunto com outros autores:
- Crie uma conta no Microsoft 365 ou use uma conta existente;
- Crie um documento no Word online ou abra um documento existente no OneDrive;
- Compartilhe o documento com os coautores, selecionando Compartilhar na barra superior ou em Arquivo > Compartilhar. Você pode escolher quem pode editar ou apenas visualizar o documento, e enviar um link ou um convite por e-mail;
- Edite o documento com os coautores, selecionando Editar Documento > Editar no Navegador ou Editar no Aplicativo da Área de Trabalho. Você pode ver quem mais está editando o documento e onde eles estão trabalhando, por meio de indicadores coloridos. Você pode também conversar com os coautores em tempo real, usando o chat do Skype ou do Teams;
- Adicione comentários e menções aos coautores, selecionando Revisão > Novo Comentário. Você pode usar o símbolo @ seguido do nome ou do e-mail do coautor para chamar sua atenção para um trecho específico do texto. Você pode também responder ou resolver os comentários feitos pelos coautores;
- Acompanhe e revise as alterações feitas pelos coautores, selecionando Revisão > Controlar Alterações. Você pode aceitar ou rejeitar as alterações propostas pelos coautores, ou fazer suas próprias alterações. Você pode também comparar versões diferentes do documento, usando o histórico de versões.
Lembre-se que o seu arquivo de trabalho feito no Word online pode ser baixado e usado em seu clássico Word local, no seu computador.
Vendo e fazendo acontecer!
Dica muito legal: fica de olho na Sociedade do Livro, em breve você vai ver uma escrita colaborativa acontecendo!
Estas são algumas das melhores práticas para que escritoras e escritores de ficção literária colaborem entre si. Espero que elas possam ajudar você a escrever em parceria com outras autoras e autores, aproveitando os benefícios e superando os desafios da escrita colaborativa. Lembre-se de que a escrita colaborativa é uma oportunidade de aprendizado, de troca e de crescimento, tanto pessoal quanto profissional.
Ad Astra et Ultra et Excelsior 😉 e boa escrita!
Por Wagner RMS.