Enquanto no passado um soldado da Guerra de Secessão (travada entre 1861 e 1865 nos Estados Unidos) é deslocado de seu pelotão para investigar algo extraordinário, em um futuro próximo um astronauta, cumprindo missão solitária numa estação espacial, vê a terra silenciar, como que engolida por um apocalipse sombrio e enfrenta o terror de não ter como voltar para casa, e a sua mais que provável morte do gélido espaço.
Love, do Diretor William Eubank (www.imdb.com/name/nm1827931/), não é filme para grande público acostumado a ver as bilhões de versões hollywoodianas da Jornada do Herói, de Campbell, de digestão mais universal. Este bicho aqui, creio, é filme “arte”, conceitual. Daqueles que exigem preencher lacunas participando da obra, conectando ideias com alguma criatividade. Então não há como fugir, e vamos direto a eles, os…
[Spoilers]
Ciente da existência da humanidade e de sua extinção que se aproxima, uma supercivilização envia uma nave que colide com o solo norte-americano ainda lá na época da Guerra de Secessão, formando o que parece ser a Cratera de Barringer, no Arizona. O governo de então retira soldados da frente de batalha e os envia para investigar. Depois destes soldados, seguem para a cratera exércitos de trabalhadores que arrancam o artefato alienígena de lá, construindo enormes e temporárias estruturas para tirar o bicho da cratera.
Nas décadas seguintes a coisa é estudada por batalhões de cientistas e, por fim se compreende que a nave que caiu do céu é um tipo de Arca, mas não para preservar a genética humana/terrestre, e sim as memórias da humanidade, indicando que os alienígenas construtores do artefato valorizam mais as relações, memórias e sentimentos de uma espécie (o patrimônio espiritual dela) do que seus feitos materiais, ou talvez tenham recursos limitados e só possam mesmo construir estas arcas e enviá-las para servir de epitáfio para espécies que, infelizmente, não podem ser salvas, mas cuja história eles não podem deixar se apagar do Universo.
Entendido isso (parece que) a humanidade deixa a máquina agir (ou não pode impedi-la, assim como parece não poder impedir seu próprio fim), oculta, desde o século 19, coletando as memórias dos seres viventes da Terra e entrando em órbita, como lápide mesmo, flutuando sobre um planeta morto.
No entanto essa Arca encontra o último humano vivendo seus derradeiros dias na órbita terrestre, numa futura Estação Espacial Internacional onde este último homem jazia, entregue à própria sorte. Acolhendo o último astronauta, a Arca cria uma interface com este, fazendo-o vivenciar e passar por parte das memórias armazenadas (algum tipo de holograma palpável de corredores, elevadores, hotéis, lugares capturados das memórias do planeta abaixo), enquanto tenta prepará-lo, da melhor forma possível (de um ponto de vista alienígena) para a verdade de sua solitária existência e o inóspito ocaso da espécie humana.
Por fim, o último homem, o derradeiro astronauta humano usa os escassos, mas poderosos recursos da Arca para alcançar os criadores do Artefato, que se apresentam a ele como um imenso holograma do Universo, e, no fim, entregam a ele a maior de todas as conexões humanas, pois arremessam sobre ele, numa explosão final, as “almas-memórias” de todos os habitantes da Terra, e o último Astronauta passa a ser todos os que viveram, e se conecta a eles pelo laço mais profundo e mais perene: o Amor.
[Fim dos Spoilers]
Cá entre nós, minha pouca, mas esclarecedora experiência romanesca (fui um jovem excessivamente tímido, quebrando a cara inúmeras vezes, mais do que eu gostaria, rsrs) me faz crer que este tipo de Amor Perene, sugerido, tem muito mais a ver com Amizade Verdadeira do que com Paixão. Agora o filme Love poderia ser um pouquinho (pelo menos) mais claro, menos “artístico”, a conclusão é interessante, mas o decorrer, para os menos viciados em sci-fi, pode ficar maçante.
Bem, foi assim que percebi Love, no entanto este tipo de filme admite mais de uma leitura, essa foi a minha, qual será a sua? Quer deixá-la aqui, depois de conferir o filme, nos comentários? Seria ótimo!
Por Wagner RMS.