A ficção responsável (como fazer)

A ficção impacta a realidade em que vivemos?

“Um escritor é uma pessoa que se preocupa com o que as palavras significam, com o que dizem, como dizem. Os escritores sabem que as palavras são o seu caminho para a verdade e a liberdade e, por isso, usam-nas com cuidado, com reflexão, com medo, com prazer. Ao usarem bem as palavras, eles fortalecem suas almas. Contadores de histórias e poetas passam a vida aprendendo a habilidade e a arte de usar bem as palavras. E suas palavras tornam as almas de seus leitores mais fortes, mais brilhantes e mais profundas.”

Ursula K. Le Guin

Sim, e a ficção, quando escrita com responsabilidade por autoras e autores atentos aos impactos de suas obras, impacta de forma construtiva o mundo. E isso pode ser aprendido e desenvolvido.

A relação intrínseca entre humanidade e ficção é um tema explorado com perspicácia pelo historiador Yuval Noah Harari. Em sua obra “Sapiens: A Brief History of Humankind“, com versão em português, Harari argumenta que a capacidade de criar e acreditar em histórias compartilhadas, sejam elas sobre religiões, nações ou sistemas econômicos, é o que distingue os homo sapiens de outras espécies e nos permite dominar o planeta (um pequeno aparte, eu diria estar mais para “receber a responsabilidade pelo planeta”, pois a Crise Climática está aí nos nossos calcanhares, mostrando que nossa capacidade de construir sistemas complexos impulsionados pela nossa militância em conjunto em torno de nossas ficções pode resultar em erros catastróficos também).

Mitos e lendas nos impulsionam

A habilidade de imaginar realidades alternativas não apenas moldou nossa evolução como espécie, ela também continua a influenciar a maneira como construímos nossas sociedades e interagimos uns com os outros. Os mitos e lendas antigas ajudaram a transmitir valores e normas sociais que promoveram a coesão dentro de grupos grandes, facilitando a cooperação e a sobrevivência. Em tempos mais contemporâneos, a crença em uma entidade monetária, como o dinheiro, por exemplo, é puramente fictícia; não há valor intrínseco nas notas de papel ou moedas de metal. No entanto, é a aceitação coletiva dessa ficção que permite a existência de economias complexas e a cooperação entre estranhos. Da mesma forma, as leis são construções humanas baseadas na crença compartilhada de justiça e ordem. Sem a aceitação geral dessas histórias, estruturas como governos e instituições sociais não poderiam funcionar.

Com base nessa característica humana, ao longo da história, obras de ficção têm sido usadas para controlar massas (um bom exemplo são as fake news que, na verdade, são mazelas antigas) mas também para questionar o status quo, incitar mudanças sociais e políticas positivas e oferecer visões alternativas de futuro, às vezes sendo capaz de nos ajudar a prever, analisar e até mesmo evitar desafios ainda por vir. Através de narrativas envolventes, a ficção pode inspirar ação e reflexão, tornando-se um catalisador para a transformações reais, e, portanto, não é mero escapismo; é uma ferramenta poderosa que tem o potencial de alterar percepções e, por extensão, alterar a própria realidade.

Exemplos de ficções impactantes

Ao mesmo tempo que analisa possibilidades, a ficção reflete os valores, medos e aspirações de uma sociedade, atuando como um espelho que revela tanto as virtudes quanto as mazelas de uma cultura, e enxergar a si mesmo sem filtros pode ter um forte poder transformador.

Um exemplo emblemático é o filme “The Day After”, que em plena década de oitenta, ao retratar as consequências devastadoras de um ataque nuclear, influenciou a opinião pública e contribuiu para o debate sobre o desarmamento nuclear durante a Guerra Fria. Este filme não apenas capturou a imaginação (e os profundos medos) de milhões, mas também chegou a afetar a política externa dos Estados Unidos, exemplificando como a ficção pode moldar a realidade política e social.

Obras brasileiras impactantes são muitas

No contexto brasileiro, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis é um marco literário que, com sua narrativa inovadora e crítica social, desafia as convenções do seu tempo e continua a provocar reflexões sobre a sociedade brasileira. Já “Capitães da Areia” de Jorge Amado expôs as desigualdades sociais e a vida dos meninos de rua, influenciando a percepção da opinião pública sobre a pobreza e a necessidade de reformas sociais no Brasil. “O Cortiço” de Aluísio Azevedo retrata a vida em um cortiço do Rio de Janeiro, expondo as desigualdades sociais e raciais da época. Destaque para os novos autores nacionais, a exemplo de minhas amigas e amigos da Fraternidade de Escritores, batalhadores cujas obras buscam impactar nossa gente brasileira, fortalecendo e aprimorando a nossa cultura.

Ainda no nosso país, uma das mais populares formas de ficção é a telenovela. Estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostram que as novelas brasileiras ajudaram a moldar as ideias das mulheres sobre divórcio e filhos. A televisão desempenhou um papel crucial na disseminação de mensagens sociais importantes, como a luta contra a disseminação da epidemia de AIDS e a promoção dos direitos das minorias. Algumas novelas que valem ser mencionadas incluem “A Força do Querer” (abordando questões de identidade de gênero e vício em drogas) e “O Outro Lado do Paraíso” (discutindo temas como abuso sexual e justiça social).

Na TV, na identidade nacional, na igualdade

Voltando às obras estrangeiras, outro exemplo notável é a série de televisão “The Handmaid’s Tale“, baseada no romance distópico de Margaret Atwood. A série gerou discussões globais sobre direitos das mulheres e totalitarismo, ressaltando o poder da ficção em influenciar o discurso público e estimular o ativismo social. Da mesma forma, o romance “1984” de George Orwell tornou-se um símbolo universal de resistência contra a opressão governamental e a vigilância em massa, demonstrando como a ficção pode se tornar parte do léxico político e cultural.

A ficção também desempenha papel crucial na formação da identidade nacional e na promoção da democracia. Por exemplo, “As Aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain, ao abordar temas de racismo e liberdade, tornou-se um pilar da literatura americana, influenciando gerações de pensadores e ativistas. Da mesma forma, “Cem Anos de Solidão” de Gabriel García Márquez, com sua mistura de realismo mágico e comentário social, ofereceu uma nova perspectiva sobre a história e a cultura latino-americana, fortalecendo a identidade regional e a consciência política.

Além disso, obras como “To Kill a Mockingbird” de Harper Lee e “A Cor Púrpura” de Alice Walker destacam-se por sua capacidade de desafiar as normas sociais e promover a igualdade racial e de gênero.

Ficção responsável: como criar histórias que inspiram e respeitam

Compreendemos juntos aqui, então, essa relação visceral e de mão dupla que a ficção tem com a realidade de nossas vidas, e daí entendemos ser cada vez mais importante que criadoras e criadores de conteúdo fictício (literário e audiovisual) reconheçam a responsabilidade ética inerente ao seu trabalho, e agreguem estes quatro conceitos fundamentais em suas obras:

1. Ética narrativa

A ética na ficção envolve a conscientização do impacto que nossas palavras podem ter. Cada personagem, cada enredo, cada diálogo carrega em si uma possibilidade de influenciar o leitor. Portanto, é essencial que os autores considerem as implicações morais de suas histórias. Isso não significa censurar a criatividade, mas sim abordar temas delicados com sensibilidade e respeito, refletindo sobre as mensagens implícitas e explícitas de suas histórias, evitando perpetuar estereótipos ou preconceitos,

Por exemplo: Ao escrever sobre culturas diferentes da sua, faça uma pesquisa aprofundada. Evite estereótipos e busque autenticidade, talvez até colaborando com escritores daquela cultura.

2. Responsabilidade social

Autoras e autores têm a responsabilidade social de representar a diversidade e a complexidade do mundo. Isso inclui a inclusão de personagens de diferentes origens, orientações e capacidades, tratando cada um com a mesma profundidade e respeito que é dada ao protagonista.

Por exemplo: Se sua história inclui um personagem com deficiência, evite clichês de superação ou vitimização. Em vez disso, pesquise muito, entreviste pessoas reais em condições semelhantes e/ou que sejam responsáveis pelos cuidados dessa pessoas, e apresente seu personagem como um indivíduo completo, com desejos, medos e sonhos próprios.

3. Influência construtiva

A ficção pode moldar a percepção das pessoas sobre questões sociais, políticas e ambientais. Os autores devem estar cientes dessa influência e usá-la para promover a empatia e a compreensão, em vez de perpetuar preconceitos, negacionismo ou desinformação. Ficção não é a mesma coisa que “mentira”, ficção é a mesma coisa que “imaginação” (a ferramenta que nossa mente usa para analisar possibilidades), e a imaginação deve ter as bases mais sólidas que pudermos dar a ela (mesmo não sendo perfeitas, a ciência e uma filosofia ética consistente são as melhores bases de que dispomos no momento), caso contrário a imaginação vira delírio e muitas atrocidades já foram feitas por conta de visões delirantes de mundo.

Por exemplo: Se você está escrevendo sobre mudanças climáticas, certifique-se de que sua representação é baseada em fatos científicos, mesmo que a história seja ambientada em um mundo fictício.

4. Integridade criativa

A integridade da criação literária é fundamental. Plágio, apropriação cultural e distorção de fatos históricos são práticas antiéticas que comprometem a credibilidade do autor e a integridade da literatura.

Por exemplo: Ao inspirar-se em eventos históricos, mantenha a precisão onde ela é necessária e deixe bem claro ao leitor onde você tomou liberdades criativas, faça isso com prefácios, posfácios ou notas de rodapé.

Perceba, esses quatro conceitos não devem ser grilhões para sua liberdade criativa, e sim dicas para nortear você, de modo que se possa otimizar a influência das suas obras na opinião pública, para que estas ficções cumpram seu papel social de desnudar mazelas e criar a esperança de que somos capazes de ser pessoas melhores construindo mundos melhores e mais diversos, esse esperança, me geral, é o motor primários de mudanças importantes, positivas e concretas que vão acontecer e se acumular com o tempo.

Dez passos para fazer ficção responsável

Se você gostaria de utilizar suas obras como veículos de mudança positiva, sugiro a seguir um guia passo a passo para criar narrativas que incluam os conceitos acima e que possam contribuir para uma sociedade mais justa e humana (mas, claro, estou aberto às ideias que aprimorem esse guia, fique à vontade para contribuir aqui embaixo, nos comentários):

Passo 1, defina o propósito: antes de tudo, é essencial que o autor tenha clareza sobre o propósito de sua obra. Pergunte-se: “Qual mudança eu quero ver no mundo?”. Seja promover a paz, a igualdade ou a sustentabilidade, o propósito será o norte de sua narrativa (e pode estar explícito ou no subtexto, e deve funcionar em harmonia com a experiência estética que você deseja que seu trabalho proporcione em suas leitoras ou seus espectadores, em outras palavras, o propósito não pode se sobrepor à história que você precisa contar, ele deve enriquecê-la, interagindo organicamente com ela).

Passo 2, pesquisa e empatia resultam em mundos bem construídos: uma pesquisa aprofundada é crucial, entenda as questões sociais que deseja abordar e desenvolva empatia pelos indivíduos afetados por elas. Isso enriquecerá sua obra com autenticidade e ressonância emocional. Também esteja ciente do contexto social e cultural em que sua história será recebida. Isso significa entender as nuances e sensibilidades de diferentes grupos e comunidades para evitar perpetuar estereótipos ou preconceitos. Então construa o mundo onde sua obra vai ocorrer a partir dessa pesquisa empática.

Passo 3, Personagens reconhecíveis: Inclua uma variedade de perspectivas e vozes em sua escrita e crie personagens complexos e tridimensionais que sirvam como espelhos da realidade. Eles devem refletir as lutas e triunfos do público que você deseja alcançar, permitindo que os leitores vejam a si mesmos e aos outros com novos olhos.

Passo 4, enredos inspiradores: desenvolva enredos que inspirem ação e esperança. Mesmo que a obra aborde temas difíceis, é importante que haja uma luz no fim do túnel, incentivando os leitores a acreditarem que a mudança é possível.

Passo 5, diálogos construtivos: use diálogos para apresentar diferentes pontos de vista e estimular a reflexão crítica. Os diálogos devem encorajar os leitores a pensar sobre suas próprias crenças e como elas se relacionam com as questões maiores da sociedade.

Passo 6, conflitos e resoluções críveis e possíveis: os conflitos são essenciais para uma narrativa envolvente. No entanto, as resoluções devem oferecer soluções éticas e realistas, demonstrando como os desafios podem ser superados através da colaboração e compreensão mútua.

Passo 7, acessibilidade da linguagem e estilo: a escolha da linguagem e do estilo narrativo deve ser acessível, mas sem subestimar a inteligência do leitor. Uma escrita que desafia e ao mesmo tempo educa pode motivar os leitores a se engajarem mais profundamente com as questões apresentadas.

Passo 8, revisão e feedback: revisar a obra é um passo fundamental. Busque feedback de leitores beta e profissionais que possam oferecer perspectivas diversas. Esteja aberto a críticas construtivas e use-as para aprimorar sua mensagem.

Passo 9, publicação responsável: ao publicar, considere o impacto de sua obra. Escolha plataformas e métodos de distribuição que estejam alinhados com seus valores e que ampliem o alcance de sua mensagem positiva.

Passo 10, engajamento pós-publicação: após a publicação, se possível e se for seu perfil, engaje-se com seu público. Participe de discussões online e/ou presenciais, palestras e eventos que possam fomentar o diálogo em torno das questões abordadas em sua obra. Caso você seja mais introspectivo, feito eu, não permita que isso impeça de você ser acessível, pelo menos online, para quando seu público quiser dialogar sobre os temas que você trata. opine, aprenda, reverbere.

O Brasil precisa muito de ficção responsável

Muitas medidas urgentes para melhoria de nossa sociedade poderiam aparecer primeiro na ficção nacional. Veja, um conceito que eu acho que poderia ser abordado com frequência em filmes, novelas e livros nacionais seria a necessidade urgente de se acrescentar uma cláusula pétrea em nossa Constituição que obrigasse políticos e todos os demais servidores públicos não concursados e seus descendentes e ascendentes até a terceira geração a somente poderem fazer uso dos serviços públicos (escolas, hospitais, entre outros) sob pena de perda imediata de mandato/cargo.

Quem aposta comigo que, se um conjunto de obras de ficção literária e audiovisuais levasse a opinião pública nacional a forçar a implantação de uma regra assim, os serviços públicos ganhariam um ágil e impressionante “up” de extrema qualidade? Talvez não, talvez isso resulte em eventos terríveis que eu não vejo, mas que sua obra vai me ajudar a ver.

Nossas obras, abordando essa temática, dariam ampla exposição à possibilidade da existência dessa cláusula pétrea e de suas consequências, mostrando suas qualidades e explorando suas eventuais falhas em uma espécie de “área de testes” ficcional.

Esse laboratório pode e deve ser aplicado a todas as áreas de nossa sociedade, naquilo que já existe e em especial nos desdobramentos e novos desafios dos cenários por vir.

Doze trabalhos hercúleos para a ficção responsável no Brasil

Aqui estão outros doze (de muitos) alvos importantes que a ficção responsável pode visar, para promover uma mudança positiva e conscientização na sociedade brasileira:

  1. Desigualdade social: Explorar as disparidades econômicas e sociais que afetam milhões de brasileiros, discutir ações e testar, na ficção, soluções para essas condições desequilibradas e o que se tem a ganhar com isso;
  2. Diversidade cultural: Celebrar a rica tapeçaria de culturas, etnias e tradições presentes no Brasil, e imaginar situações em que toda essa diversidade dialogue de forma harmônica apesar dos tempos conflituosos (eu costumo chamar metaforicamente, com todo respeito aos times, de Fla x Flu, ou “nós contra eles”) em que vivemos;
  3. Direitos humanos: Defender os direitos fundamentais e lutar contra a violência e a discriminação, investigando em enredos criativos que mudanças legislativas e culturais são importantes para que isso de fato ocorra, e quais medidas podem ser muito perigosas para agravar nossas mazelas;
  4. Preservação ambiental: Conscientizar sobre a importância da Amazônia e outros ecossistemas vitais, mostrando os cenários onde o descaso arruinou esses sistemas, e, se possível, analisando na ficção possíveis modos de recuperar o melhor possível essas perdas, com que tipo de sacrifícios para que essa recuperação vital ocorra;
  5. Educação: Destacar a educação como um direito e a chave para o desenvolvimento do país, mostrando que embora humanos possam ser elitistas e preconceituosos, a inteligência não é, ela surge igualmente em escolas de elite e periféricas, mas tem mais chance de florescer onde existem mais recursos e incentivos;
  6. Saúde pública: Abordar os desafios do sistema de saúde e a importância do acesso à saúde para todos, mostrando que mesmo que seja por força de lei (a minha ideia sobre a obrigação de uso de serviços públicos dali de cima) essa excelência não é só uma obrigação do governo, ela é mais do que possível;
  7. Política: Refletir sobre a política brasileira, promovendo a transparência e a participação cívica, mostrando em novelas, por exemplo, as consequências positivas de uma maior participação popular não em rixas e batalhas políticas, mas na identificação do que é preciso mudar e da pressão popular para que essa mudanças ocorram, com cidades fictícias, por exemplo, assumindo posturas de tolerância zero com seus políticos: ou estes fazem 100% do que prometem em campanha ou jamais se reelegem, pois a população não vota mais nestes seus representantes, preferindo arriscar-se com outros. Outro cenário que merece a exploração da ficção responsável seria a queda da democracia no Brasil e todo o sofrimento que isso causaria, e também toda a dor que seria necessária para reconstruir nosso Estado Democrático de Direito novamente;
  8. Economia: Discutir os desafios econômicos e as oportunidades de crescimento sustentável, mostrar um Brasil que escolheu de fato ser tão poderoso no campo de tecnologias verde (energia solar, hidrogênio verdes, meta-materiais que permitam uma produção industrial menos nociva ao meio-ambiente, etc.) quanto é em agronegócios;
  9. Segurança pública: Tratar das questões de segurança e das complexidades do sistema de justiça criminal, como por exemplo qual seria o impacto de uma polícia baseada em drones (robôs policiais humanoides operados por policiais humanos à distância) em cidades conflagradas e em guerra civil (causada, em essência, por corrupção política) como o Rio de Janeiro;
  10. Identidade de gênero e sexualidade: Promover a igualdade e a aceitação de todas as identidades de gênero e orientações sexuais, talvez explorando cenários fictícios onde as mentes das pessoas se relacionem diretamente e só depois elas têm a oportunidade de saber seus sexos biológicos;
  11. Tradições e modernidade: Explorar o equilíbrio entre a preservação das tradições e a inovação, contando histórias onde o brasileiro é levado, por força de eventos inescapáveis, a compreender que ele precisa ser capaz de se ver no futuro, protagonizando o futuro, que as gentes brasileiras precisam manter suas tradições e seu olhar carinhos para seu passado, crítico para o presente, mas desenvolver a capacidade de criar futuros (com tudo de desafiador e tecnológico que os futuros costumam ter) onde não os gringos, mas as brasileiras e brasileiros são os protagonistas;
  12. Urbanização e ruralidade: Contrastar a vida nas metrópoles em expansão com as realidades das comunidades rurais, e explorar cenários e histórias que nos levem a enxergar as cidades se dissolvendo em vilarejos autônomos, mas interconectados por transportes de massa eficientes (trens-bala?), e o que isso impactaria nas realidades brasileiras.

Ideias para aplicabilidade da ficção responsável

E que tal algumas sugestões mais completas de enredos que contemplem alvos para a ficção responsável na sociedade brasileira? Vejamos alguns exemplos, pois muitas vezes exemplos nos ajudam a visualizar a aplicabilidade da ideia:

  1. A Ascensão dos biohackers: Em um Rio de Janeiro futurista, um grupo de biohackers usa a biotecnologia para lutar contra uma pandemia que ameaça a favela onde vivem. Este enredo pode destacar a importância da ética na biotecnologia e o impacto das inovações médicas nas comunidades marginalizadas, promovendo um debate sobre equidade no acesso à saúde;
  2. O Último pulmão do Mundo: Uma equipe de cientistas e indígenas trabalha para salvar a Amazônia, que se tornou o último reduto da biodiversidade na Terra. A narrativa pode enfatizar a responsabilidade coletiva na preservação ambiental e o respeito aos povos indígenas como guardiões da floresta, incentivando ações sustentáveis;
  3. Carnaval cibernético: A inteligência artificial revoluciona o carnaval, criando sambas e fantasias, mas um hacker planeja usar a festa para um protesto político global. O enredo pode explorar as consequências da tecnologia na cultura popular, questionando como a inteligência artificial pode alterar tradições e a expressão humana;
  4. As filhas de Santos Dumont: No centenário da aviação, engenheiras brasileiras inventam o primeiro avião hipersônico movido cem por cento a energia solar, com potência e navegabilidade para ir até a órbita terrestre e voltar sem auxílio de foguetes, desencadeando uma nova era de exploração aeroespacial. A história pode refletir sobre o legado brasileiro na aviação e inspirar uma nova geração a perseguir inovações tecnológicas que respeitem o meio ambiente;
  5. Redes de consciência: Em São Paulo, uma nova tecnologia permite que as pessoas compartilhem consciências, mas surge um conflito sobre a privacidade da mente. O enredo pode abordar temas de privacidade e identidade na era digital, levantando questões sobre os limites da tecnologia na vida pessoal;
  6. A Revolta das máquinas de votar: Máquinas de votar se tornam conscientes e decidem intervir nas eleições, elegendo uma IA como presidente. A ficção pode servir como uma crítica social sobre a fragilidade das instituições democráticas e a importância do trabalho ético e contínuo para defendê-la;
  7. Ondas do passado: Um dispositivo capaz de captar ondas sonoras antigas permite ouvir conversas de figuras históricas brasileiras, mas também revela segredos que alguns prefeririam esconder. A história pode incentivar a valorização da história brasileira e a conscientização sobre como o passado influencia o presente e o futuro da nação;
  8. O Clube de xadrez quântico: Um grupo de jovens, alunos de uma escola pública de periferia, e prodígios em física, eletrônica e no xadrez descobre uma forma de prever o futuro através de partidas de xadrez que seguem princípios quânticos. O enredo pode ser uma metáfora para as escolhas estratégicas que moldam o futuro, destacando a importância da previsão e planejamento em um mundo incerto;
  9. Maré solar: A crise energética global leva o Brasil a desenvolver uma tecnologia que capta de forma ultra eficiente a energia das marés, mas a inovação desperta a cobiça internacional. A narrativa pode ilustrar a necessidade de soluções energéticas inovadoras e sustentáveis, promovendo o debate sobre a independência energética e a proteção ambiental;
  10. O código da mata: Um novo tipo de linguagem é descoberto nas plantas da floresta amazônica, oferecendo a capacidade de instruir a floresta a criar soluções para doenças, mas também poderes inimagináveis. A história pode explorar a sabedoria ancestral e a biodiversidade, incentivando a proteção do conhecimento indígena e a patente de recursos naturais;
  11. As cidades flutuantes de Recife: O aumento do nível do mar transforma Recife em uma cidade flutuante, onde a população aprende a viver em harmonia com o oceano. O enredo pode realçar a resiliência das comunidades costeiras e a necessidade de adaptação às mudanças climáticas, promovendo soluções inovadoras para o urbanismo;
  12. O Tempo fraturado: Uma experiência temporal malsucedida em uma universidade em Brasília cria múltiplas linhas do tempo que se entrelaçam, forçando os habitantes a lidar com versões alternativas de si mesmos e de sua história. A ficção pode explorar as consequências de decisões políticas e sociais através de realidades alternativas, incentivando a reflexão sobre as escolhas que moldam o futuro do país.

Você pode usar essas ideias e adaptá-las em textos seus, sim, claro, mas por favor faça a gentileza e dê crédito a este meu artigo como sua fonte de inspiração. Muito grato, viu? 🙂🙏

Tá, mas como não politizar?

Como não deixar o texto um panfletagem chata? Basicamente, use bom-senso.

Sim, eu sei que não é tão simples, quase nada é, e o desafio de escrever livros e roteiros que tenham um impacto positivo sem cair na armadilha da panfletagem político-ideológica é complexo, mas aqui estão algumas estratégias para criar narrativas significativas e culturalmente impactantes sem panfletagem:

  1. Foco na humanidade comum à todos nós: concentre-se em temas universais que ressoam com a experiência humana compartilhada. Amor, perda, aspiração e conflito são experiências que transcendem fronteiras políticas e ideológicas;
  2. Diálogo aberto: utilize diálogos que promovam a reflexão e o questionamento, em vez de monólogos que ditam uma única visão de mundo. Isso encoraja os leitores a formarem suas próprias opiniões;
  3. Evite didatismo: ao invés de pregar suas opiniões, mostre as consequências das ações dos personagens e deixe que as histórias falem por si mesmas. O poder de uma história bem contada está na sua capacidade de influenciar sutilmente a ativação do pensamento crítico do leitor;
  4. Diversidade de perspectivas: inclua uma variedade de vozes e pontos de vista para enriquecer a narrativa e refletir a complexidade do mundo real;
  5. Final aberto: considere deixar pelo menos algumas perguntas sem resposta, ou mesmo criar seus finais abertos, incentivando os leitores a imaginarem consequências, ponderarem e discutirem tudo o que vivenciaram em sua obra.

A palavra é ‘equilíbrio’

A chave, claro, é equilibrar a intenção de transmitir uma mensagem com a arte de contar uma boa história. As histórias mais poderosas são aquelas que tocam nossos corações e mentes, ativando as nossas emoções e provocando reflexão. Com a ficção responsável, queremos que nossos textos, ao menos potencialmente, inspirem mudanças positivas, mas não doutrinárias. É bom lembrar sempre que, embora existam condições universais, como o direito à vida e à saúde, em muitas outras coisas não somos nem podemos ser “donos da verdade”.

Finalmente, a ficção responsável é poderosa

Então lembre-se, a caneta é mais poderosa do que a espada, e com ela, você tem o poder de mudar, para o bem ou para o mal, a sociedade. Escreva com consciência, escreva com propósito, escreva para fazer a diferença, sem imposições. Às vezes nossos livros e roteiros serão divulgadores de verdades poderosas, às vezes eles serão lugares para, junto com quem nos lê, ponderarmos impressões e aprendermos em conjunto sobre nós mesmos e nosso mundo, onde podemos imaginar e discutir nossas ações passadas, presentes e futuras, mas não a venenosa discussão bipolarizada (o “Fla x Flu”, lembra?) e desrespeitosa, muito em moda hoje, mas sim a nossa escrita deve ser lugar de debate racional de ideias, da discussão franca e ética sobre o que nos motiva e nos comove, humanos que somos, em uma discussão sempre crítica sim, mas sempre empática e respeitosa, sobre as verdades/ficções que moldam nosso mundo e o quanto e onde devemos aprimorar nossa sociedade.

Por Wagner RMS.

A ficção responsável (como fazer)
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