29 Anos de uma Jornada: De Detroit a Ipamoará
“Remanescentes, vivam para sempre!”
Foi com essa frase, digitada em uma troca de e-mails numa tarde de 6 de janeiro de 2008, que Cristiano Carlos, a mente por trás do avatar Tocandira, sintetizou o espírito do que estamos prestes a revelar ao mundo. Mas a semente dessa frase foi plantada muito antes, em 27 de dezembro de 1996, quando Claudio Augusto dos Anjos narrou a primeira cena para Fabio Farzat e Alexandre “Bigode” Santiago.
Naquela mesa, nascia um universo. Mas ele era diferente do que vocês verão agora.
A Gênese: De Iron Village ao Coração do Brasil
Em 1996, éramos quase crianças, imersos em uma época que supervalorizava a cultura estrangeira. Por isso, as primeiras aventuras dos Remanescentes não ocorreram sob o sol dos trópicos, mas nas terras frias e distantes de Detroit, EUA, em uma cidade fictícia chamada Iron Village. Nossas campanhas originais foram vividas em “terras gringas”, emulando os quadrinhos importados que líamos.
Mas as histórias amadurecem junto com seus contadores.
Em uma das últimas conversas que tive com Claudio antes de seu falecimento, nós projetamos as bases de uma revolução na saga. Decidimos que era hora de trazer os heróis para casa. O plano era criar um remake que arrancasse a trama do asfalto norte-americano e a enraizasse profundamente em solo brasileiro.
Esta nova saga literária que apresento hoje é, acima de tudo, uma homenagem. É a concretização daquele último desejo: olhar para os Remanescentes com uma alma brasileira. Estamos trocando a neve de Iron Village pela bruma mística da Ilha de Ipamoará, no litoral do Rio de Janeiro. E fazemos isso usando uma ideia genial que o próprio Claudio concebeu: a conexão através do Bar Esbórnia.
O Conceito: A Alma por Trás da Máscara
Imagine um universo de super-heróis. Agora, imagine que esses heróis, com todas as suas falhas, traumas, neuroses e heroísmo, não são donos completos de seus destinos. Eles são Avatares.
Essa foi a chave mestra deixada por Claudio: o Bar Esbórnia não é apenas um cenário boêmio; é um nexus místico que conecta realidades. É através dele que a Psykhē (a alma do jogador no nosso mundo) anima sutilmente o personagem no universo de Ipamoará. Essa dualidade entre o criador (aqui) e a criatura (lá) define o coração de Remanescentes.
Permitam-me apresentar os protagonistas desta fase, o Trio Américas, e como suas personalidades são reflexos distorcidos, ou purificados, de quem os controla.
O Trio Américas: O Caos, a Ordem e a Liderança
No centro do furacão, temos três figuras improváveis:
Reator (Marcelo “Marty” Reator)
- O Avatar: Em Ipamoará, Marty é um jovem delinquente, impulsivo, filho de um vilão, lutando para não ser definido pelos erros do pai. Ele é pura energia elétrica e dúvida.
- O Jogador (Fabio Farzat): No nosso mundo, Fabio é um empresário de TI bem-sucedido, estruturado e visionário.
- A Dualidade: É no choque entre a estabilidade do Fabio e a instabilidade do Marty que nasce um líder. Reator é a prova de que a liderança não vem da perfeição, mas da capacidade de gerenciar o caos interno.
Summerboy (Natan “Nash”)
- O Avatar: Um pirocinético volátil. Nash é o fogo que aquece e queima. Ele busca liberdade absoluta, muitas vezes flertando com o desastre apenas para sentir-se vivo.
- O Jogador (Alexandre “Bigode” Santiago): Summerboy, sob o comando de Alexandre, representa o arquétipo do “Agente do Caos”. É o espírito generoso, mas louco, aquele que na mesa de jogo, e na vida, às vezes só “quer ver o circo pegar fogo” para ver o que renasce das cinzas. Summerboy é a manifestação desse desejo primal de entropia e diversão.
Power Punch (Paul Lee)
- O Avatar: Um artista marcial focado, disciplinado, buscando um propósito maior. Aparentemente, o pilar de sensatez do grupo.
- O Jogador (Anderson Marinho): Anderson, um grande intérprete, empresta a Paul Lee uma faceta que poucos veem à primeira vista. Sob a fachada austera e a disciplina rígida, existe uma natureza lúdica, um “folgazão recatado”. Paul Lee é, em bom português, um sonso. Ele é aquele que observa, ri por dentro, e age com precisão cirúrgica quando ninguém espera.
Os Veteranos e a Mística: O Peso do Legado
Mas o universo de Remanescentes não é feito apenas de novatos. Há lendas caminhando entre nós, personagens cuja densidade narrativa sustenta a realidade de Ipamoará.
Tocandira (Dan Hindenburg)
Animado por Cristiano Carlos, Tocandira é talvez o personagem mais complexo espiritualmente. “Tocado” por Leviatã (uma entidade infernal), ele veste uma armadura de quitina e controla insetos. Ele é a ponte entre o humano e o abismo, lutando diariamente para que a “Fome do Inferno” não o consuma. É a personificação da resiliência.
Arborus Jr.
Animado por Cezinha (Cesar Vieira Carnevale), ele traz a conexão com a natureza, mas não de uma forma idílica e sim visceral, lembrando-nos que Ipamoará é uma entidade viva que exige respeito.
Impacto (Diana Dupret) & Neutron (Walter Alessandro Veiga)
Animados pela minha própria consciência (Wagner RMS), este casal representa os polos da existência humana.
- Impacto é a força nuclear, a executiva, a mãe leoa. Ela carrega o peso do mundo e a responsabilidade de liderar quando os “meninos” falham.
- Neutron é a gravidade que nos mantém no chão. Físico brilhante, marido devoto e bússola moral do grupo. Onde Diana é explosão, Walter é a contenção necessária.
Estes são apenas alguns dos inúmeros e fascinantes personagens de Remanescentes, e, pairando sobre todos, está a onipresença criativa de Claudio Augusto dos Anjos. Embora não anime um avatar específico no campo de batalha, sua Psykhē permeia a estrutura da realidade; ele é o “Mestre”, o Demiurgo original que soprou vida em 1996 e permitiu que brincássemos de deuses.
O Bar Esbórnia: O Centro do Multiverso
Este lançamento não é apenas sobre Remanescentes. É sobre a unificação.
Leitores atentos dos meus outros trabalhos, como a Space Opera filosófica C7i ou a fantasia urbana Mônica, já ouviram sussurros sobre um certo bar. O Bar Esbórnia.
Em Remanescentes, revelamos que o Esbórnia não é apenas um cenário; é uma encruzilhada dimensional. É o local onde a ficção encontra a realidade, onde o tempo é fluido e onde um drink pode custar uma memória ou uma vida inteira. Todos os meus universos literários orbitam, em algum nível, a gravidade deste bar. Ipamoará é apenas a vizinhança mais perigosa e fascinante ao redor dele.
Um Convite para Ipamoará
Este artigo é um convite e uma celebração.
Estamos abrindo as portas de um universo onde a magia é ciência não compreendida, onde o folclore brasileiro (Saci, Boitatá, Iara) é reinterpretado sob uma ótica sci-fi e sombria. Saímos de Detroit para abraçar o Brasil, mantendo a essência do que criamos em 1996: heróis que não são deuses inatingíveis, mas reflexos de nós mesmos, jogadores da vida real tentando encontrar sentido em um mundo caótico.
Aos veteranos de 1996: obrigado por construírem a fundação em Iron Village. Aos novos leitores: peguem seus dados, escolham seus avatares e preparem-se para Ipamoará. O trem está partindo. E como disse Cristiano: Remanescentes, vivam para sempre!
Em breve nas melhores plataformas digitais e em wagnerrms.com.
Por Wagner RMS.

