Mas antes de te mostrar como escrever para Grandes Atuações, para grandes atores e atrizes extraordinárias, uma contextualização é importante:
A última greve de roteiristas e atores em Hollywood ocorreu em 2023. Os roteiristas, representados pela Writers Guild of America (WGA), entraram em greve em 2 de maio de 2023, exigindo salários mais justos e melhores condições de trabalho, principalmente na área do streaming. Mais de 160 mil atores e atrizes, representados pelo Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA), se juntaram à greve em julho de 2023.
Entre as reivindicações dos atores estavam pontos em comum com os roteiristas, como o aumento da remuneração básica, afetada pela inflação e pelas mudanças propiciadas pelo streaming, e a regulamentação do uso da inteligência artificial, que estes profissionais entendem como potencial grande ameaça.
As IAs são mesmo tudo isso?
A Inteligência Artificial (IA) Generativa usa algoritmos estatísticos para calcular as relações entre palavras e frases e gerar textos baseados nessa matemática que parecem escritos por humanos, o que quer dizer que gera um “novo” conteúdo à partir de outros conteúdos, este sim feitos por humanos, por ela armazenados.
Esse tipo de IA tem sido usada na indústria de entretenimento para ajudar na escrita de roteiros, mas, enquanto não existir uma IA Genérica (e não meramente generativa) que, feito nós, humanos, seja capaz de compreender o que lê, o que ela escreve, de generalizar suas percepções abstratas e de ter intuições criativas — lembrando que nós ainda não compreendemos nem mesmo como os humanos fazem isso, criar por livre associação — é improvável que uma IA substitua completamente roteiristas.
Muito menos atores e atrizes, cujas intuições dão carne e osso àqueles que criamos no papel.
A IA atual pode, no máximo, ser aplicada para escrever sinopses, esboços e tratamentos de roteiros, mas os lampejos criativos dos profissionais do texto a da interpretação ainda não podem ser dispensados.
Um roteirista humano é responsável e capaz de desenvolver a estrutura narrativa da história, criar diálogos e definir a sequência de eventos que compõem a trama, elaborar personagens, cenários e situações marcantes, além de definir os conflitos e reviravoltas criativas que ocorrerão ao longo da história. Essas escritoras e escritores de roteiros precisam e conseguem compreender as necessidades e características do público-alvo, bem como as demandas do gênero e formato em que estão trabalhando, para superar expectativas e encantar plateias com obras extraordinárias como as da Kilmerson, por exemplo.
Roteiro como elo entre quem escreve e quem atua
A relação entre roteiristas e quem interpreta no palco ou nas telas pode variar, dependendo do projeto e da dinâmica da equipe de produção. Em alguns casos, os roteiristas podem ter mais contato direto com os intérpretes, enquanto em outros projetos, o diretor pode atuar como intermediário entre os dois grupos.
Mas quando existe a conexão direta, roteiristas trabalham em estreita colaboração com os atores e atrizes para garantir que os personagens sejam retratados de maneira autêntica e coerente com a história. Os atores podem fornecer feedback sobre os diálogos e ações dos personagens, e os roteiristas podem ajustar o roteiro de acordo. Além disso, roteiristas podem trabalhar com atores para desenvolver a história de fundo dos personagens e garantir que suas motivações e ações sejam claras e consistentes.
Portanto nós que escrevemos também para TV, Cinema e demais audiovisuais que dependem da Arte da Atuação, devemos compreender o melhor possível o trabalho de atrizes e atores para que nossos textos lhes deem as melhores condições de criar grandes atuações.
Em seguida pretendo te apontar nesse bom caminho. Vamos ver em mais detalhes o que os intérpretes estudam, o motivo de serem grandes artistas e as técnicas para apoiá-los com a nossa escrita preparada para permitir as Grandes Atuações.
Mas o que são Grandes Atuações?
É preciso definir o que é uma grande atuação. Não há uma resposta única ou definitiva para essa questão, pois a arte da atuação envolve aspectos subjetivos, pessoais e culturais. No entanto, alguns critérios podem nos ajudar a reconhecer uma grande atuação quando a vemos.
Uma Grande Atuação é aquela que:
- Cria um personagem tridimensional, com uma história de vida rica e coerente, que transcende os limites do texto;
- Transmite a verdade do personagem, suas emoções, motivações, conflitos e objetivos, de forma orgânica e convincente;
- Estabelece uma conexão com o público, despertando sua empatia, curiosidade, admiração ou repulsa pelo personagem;
- Domina os recursos técnicos da atuação, como a voz, o corpo, o ritmo, a expressão facial e a interação com os outros atores e o cenário;
- Surpreende e inova, trazendo algo novo e original para o personagem, sem cair em clichês ou caricaturas.
Alguns exemplos de grandes atuações:
- Fernanda Montenegro como Dora em Central do Brasil (1998), uma ex-professora que escreve cartas para analfabetos e se envolve com um menino órfão;
- Jack Nicholson como Jack Torrance em O Iluminado (1980), um escritor que enlouquece em um hotel isolado e ameaça sua família com um machado;
- Meryl Streep como Miranda Priestly em O Diabo Veste Prada (2006), uma editora de moda tirânica e exigente que faz da vida de sua assistente um inferno;
- Daniel Day-Lewis como Abraham Lincoln em Lincoln (2012), o presidente americano que luta para abolir a escravidão durante a Guerra Civil.
Como escrever para Monstros Sagrados desse nível?
Escrever para Grandes Atuações, ou seja, para grandes atrizes e atores é um desafio e uma oportunidade para nós que escrevemos. É uma forma de homenagear e valorizar o trabalho de quem atua, que são responsáveis por dar voz e corpo e sangue aos personagens que criamos. É também uma forma de aprimorar e enriquecer nossa escrita, buscando criar personagens que sejam verossímeis, complexos e fascinantes.
Para fazer isso acontecer, existem algumas dicas e técnicas que podem nos ajudar a criar personagens desafiadores para atrizes e atores interpretarem. Vejamos:
- Conheça bem o seu personagem. Faça uma pesquisa sobre o seu contexto histórico, social, cultural e psicológico. Crie uma biografia detalhada para ele, incluindo sua infância, sua família, seus amigos, seus amores, seus traumas, seus sonhos, seus medos etc. Saiba o que ele quer, por que ele quer, como ele tenta conseguir e o que ele enfrenta no caminho.
- Dê voz ao seu personagem. Escreva diálogos que reflitam a personalidade, o humor, o nível de educação, o sotaque e a forma de se expressar do seu personagem. Evite usar palavras ou expressões que não combinem com ele ou que soem artificiais ou forçadas. Procure variar o tom, o ritmo e a intensidade dos diálogos conforme a situação dramática.
- Crie conflitos para o seu personagem. Um personagem sem conflitos é um personagem sem interesse. Os conflitos podem ser internos (entre os desejos e os valores do personagem) ou externos (entre o personagem e outras pessoas ou circunstâncias). Os conflitos geram tensão, suspense e emoção na história e motivam as ações do personagem.
- Mostre as mudanças do seu personagem. Um personagem que não muda ao longo da história é um personagem estático e previsível. Um personagem que muda é um personagem dinâmico e surpreendente. As mudanças podem ser positivas ou negativas, grandes ou pequenas, mas devem ser coerentes com a trajetória do personagem e com os eventos da história.
- Muito importante, dê espaço para o ator. Não tente controlar ou limitar a atuação do ator com excesso de descrições, indicações ou explicações. Deixe que o ator use sua criatividade, sua intuição e sua técnica para dar vida ao personagem. Confie na capacidade do ator de transmitir o que não está escrito, como os subtextos, as entrelinhas e as nuances.
Mas não é só isso. Vamos mais longe:
Falando a língua de quem atua
Se pergunte: como alguns atores conseguem dar vida a personagens tão complexos e convincentes? Como eles podem fazer você acreditar que estão realmente sentindo as emoções que expressam no palco ou na tela?
Dizer simplesmente que elas e eles são bons fingidores é simplista e vago. Se você não tem respostas precisas para essas questões, você não está preparada(o) para escrever para atores e atrizes.
Mas isso tem solução, que é aprender o que esses artistas aprendem. Deixa eu te apresentar algumas obras referenciais, que atrizes e atores usam no mundo todo em seus treinamentos para os palcos:
“Respect for Acting”, de Uta Hagen
Uta Hagen foi uma atriz e professora de teatro que desenvolveu uma técnica de atuação baseada no sistema de Stanislavski, mas com algumas modificações. Em seu livro “Respect for Acting“, ela apresenta uma série de exercícios e exemplos práticos para ajudar os atores a resolverem problemas como: “Como falar com o público?”, “Como manter o frescor em uma longa temporada?” e “Como usar a substituição para informar e moldar as ações do personagem?”.
Vamos explorar alguns dos conceitos principais de Hagen e como eles podem ajudar os escritores a criar diálogos e situações que desafiem e estimulem quem atua:
- Substituição: é uma variação da recordação emocional. Mas, ao contrário do Método de Strasberg, que pede aos atores que recriem mentalmente as condições emocionais de suas vidas no palco, a técnica de Hagen se concentra em identificar momentos em que atividades ou sensações da experiência vivida do ator se cruzam com a cena em questão. Por exemplo, se um personagem está com medo de perder alguém, o ator pode substituir essa pessoa por alguém de sua própria vida que tenha esse significado para ele. Assim, o ator pode acessar suas próprias emoções e usá-las para informar suas ações na cena. Como escritor, você pode usar a substituição para criar conflitos e objetivos claros para seus personagens, que possam ser relacionados pelos atores. Você também pode usar detalhes sensoriais que possam evocar memórias ou sentimentos nos atores.
- Transferência: é um termo que Hagen usou em seu livro posterior, “Challenge for the Actor”, para renomear a substituição. Ela argumentou que o termo substituição era enganoso, pois implicava que o ator estava substituindo sua própria realidade pela do personagem, em vez de transferir sua energia emocional para a situação imaginária. A transferência também envolve a identificação do ator com o personagem, mas sem perder a consciência de que ele está representando uma ficção. Como escritor, você pode usar a transferência para criar personagens que tenham uma personalidade distinta da sua, mas que ainda possam ser compreendidos e interpretados pelos atores. Você também pode usar elementos simbólicos ou metafóricos que possam sugerir uma conexão mais profunda entre o personagem e o ator.
- Especificidade: é a capacidade do ator de ser preciso e detalhado em suas escolhas e ações na cena. Hagen defendia que os atores deveriam evitar generalizações ou clichês em suas performances, e buscar sempre a verdade do momento presente. Ela também incentivava os atores a observarem rigorosamente a vida cotidiana e as pessoas ao seu redor, para desenvolverem um senso de realismo e variedade em suas representações. Como escritor, você pode usar a especificidade para criar personagens que tenham características únicas e interessantes, que possam diferenciá-los dos demais. Você também pode usar descrições vívidas e concretas que possam ajudar os atores a visualizar e habitar o mundo da peça.
- Autenticidade: é a qualidade do ator de ser honesto e sincero em sua expressão. Hagen acreditava que os atores deveriam evitar a artificialidade ou o excesso de intelectualização em seus processos, e se basear em sua própria intuição e sensibilidade. Ela também afirmava que os atores deveriam estar abertos à improvisação e à espontaneidade na cena, sem se prenderem rigidamente ao texto ou ao roteiro. Como escritor, você pode usar a autenticidade para criar personagens que tenham uma voz própria e coerente, que possa refletir sua personalidade e suas emoções. Você também pode usar diálogos naturais e coloquiais que possam soar verdadeiros e fluidos na boca dos atores.
- Preparação: é o trabalho prévio que o ator faz antes de entrar na cena, para se colocar no estado emocional e físico adequado para o personagem. Hagen sugeria que os atores deveriam criar uma rotina de aquecimento e relaxamento, bem como uma série de exercícios que pudessem estimular sua imaginação e sua concentração. Ela também propunha que os atores deveriam fazer uma análise cuidadosa do texto, identificando os objetivos, as ações, as circunstâncias e as relações de seus personagens. Como escritor, você pode usar a preparação para criar personagens que tenham uma história e um contexto claros, que possam justificar suas motivações e seus comportamentos na cena. Você também pode usar indicações cênicas que possam orientar os atores sobre o tom e o ritmo da peça.
Perceba que se você assimilar esses conceitos, e os levar em consideração quando escrever seus roteiros, isso abrirá espaço em sua obra para que os intérpretes usem esses recursos.
Você não precisa deixar notas ou orientações, basta que sua escrita dê margem a essas técnicas. E esteja aberto aos questionamentos de quem atua, quando buscam lastro em seu texto, ou mesmo nas suas referências para criar seus roteiros, para aplicar suas técnicas de atuação.
Tem mais, tem mais. Acrescente a estes potentes conceitos os seguintes:
“The Power of the Actor: The Chubbuck Technique”, de Ivana Chubbuck
Ivana Chubbuck é uma professora e coach de atuação que revela em seu livro sua técnica inovadora, que lançou algumas das carreiras mais bem-sucedidas de Hollywood. Entre seus alunos estão Charlize Theron, Elisabeth Shue, Brad Pitt, Halle Berry e Djimon Hounsou. O livro “The Power of the Actor” guia o leitor por um processo poderoso de 12 passos, que vai desde a análise do roteiro até a criação de um personagem vivo, complexo e dinâmico. É mais ou menos assim:
- Escolher uma cena ou um monólogo que tenha um objetivo claro e específico para o personagem.
- Identificar o objetivo geral do personagem na história, que deve ser algo tangível e mensurável que ele quer alcançar a todo custo.
- Identificar o obstáculo que impede o personagem de alcançar seu objetivo geral, que pode ser externo (outra pessoa, uma situação) ou interno (um medo, uma crença).
- Identificar a necessidade ou a motivação por trás do objetivo geral do personagem, que deve ser algo emocional e profundo que ele precisa satisfazer para se sentir completo ou feliz.
- Identificar o substituto ou a pessoa com quem o personagem se relaciona na cena ou no monólogo, que pode ser o próprio interlocutor ou alguém ausente ou imaginário.
- Identificar a história pessoal do personagem, que é o conjunto de experiências passadas que moldaram sua personalidade, seus traumas, seus desejos e seus medos.
- Identificar o momento anterior ao início da cena ou do monólogo, que é o evento ou a situação que desencadeou a ação do personagem e o colocou em um estado emocional específico.
- Identificar o objetivo da cena ou do monólogo, que é o que o personagem quer conseguir naquele momento específico para se aproximar do seu objetivo geral.
- Identificar os obstáculos da cena ou do monólogo, que são as dificuldades ou as resistências que o personagem enfrenta para alcançar seu objetivo da cena ou do monólogo.
- Identificar as ações ou os verbos que o personagem usa para superar os obstáculos e alcançar seu objetivo da cena ou do monólogo, que devem ser ativos, específicos e variados.
- Identificar os momentos-chave da cena ou do monólogo, que são os pontos de virada ou as mudanças emocionais que ocorrem durante a ação do personagem.
- Identificar o arco dramático do personagem na cena ou no monólogo, que é a transformação ou a evolução que ele sofre desde o início até o fim.
Ao seguir esses passos, os atores têm melhor chance de criar personagens tridimensionais, com uma vida interior rica e uma lógica consistente.
Mas como tudo isso pode ajudar os roteiristas?
Assim: ao escrever para Grandes Atuações, para atores e atrizes altamente capazes, os roteiristas devem pensar como atores. Roteiristas devem se colocar no lugar de seus personagens e — a partir dos conceitos de Uta Hagen e dos 12 passos de Ivana Chubbuck acima — se perguntar coisas do tipo: o que esses personagens querem? Por quê? Como eles vão conseguir? Quais são os obstáculos? Que emoções estão envolvidas? Quais são as ações? Onde estão os momentos-chave? Quais são as mudanças?
Ao fazer essas perguntas, os roteiristas podem criar personagens que tenham objetivos claros e fortes, que enfrentem conflitos reais e interessantes, que tenham motivações profundas e complexas, que se relacionem com outros personagens de forma significativa, que tenham uma história pessoal que explique suas escolhas e comportamentos, que tenham um momento anterior que justifique seu estado emocional inicial, que tenham um arco dramático que mostre sua transformação e que usem ações variadas e criativas para alcançar seus objetivos. Esses são os elementos que fazem com que os personagens sejam atraentes, críveis e memoráveis, e que despertem o interesse e a curiosidade dos atores.
Quem escreve roteiros deve preferir escrever diálogos subtextuais ou implícitos, que sugiram as emoções e os pensamentos dos personagens sem revelá-los diretamente. Também vale evitar escrever direções de cena ou de atuação muito detalhadas ou restritivas, que impeçam os atores de explorarem suas próprias ideias e intuições. Direções de cena/atuação, se muito necessárias, devem ser mais gerais ou sugestivas, que orientem os atores sem jamais limitá-los.
Ainda seguindo esse conceito, que compreender a arte de quem interpreta nos faz, roteiristas, profissionais melhores e mais capazes de escrever para atores e atrizes expressivos e talentosos, vamos, por fim, a um manual clássico entre atores e atrizes:
“An Actor Prepares”, de Constantin Stanislavski
Stanislavsky foi um pioneiro na busca por uma atuação mais natural e realista, que fosse baseada na observação do comportamento humano e na criação de uma conexão psicológica e emocional com o personagem. Ele escreveu vários livros sobre sua abordagem, sendo o mais famoso “An Actor Prepares“, publicado em 1936. Neste livro, ele apresenta os principais conceitos e exercícios de seu “método Stanislavsky“, explicados por meio do diário fictício de um estudante de atuação chamado Kostya.
Alguns dos princípios do método de Stanislavsky são:
- Ação: O ator deve ter sempre um objetivo claro e específico em cada cena, que motive suas ações e reações. O objetivo deve ser expresso em verbos ativos, como “convencer”, “seduzir”, “enganar”, etc.
- Imaginação: O ator deve usar sua imaginação para criar as circunstâncias imaginárias da cena, como o lugar, o tempo, o clima, as relações entre os personagens, etc. Essas circunstâncias devem ser coerentes com o texto e com a visão do diretor.
- Concentração de atenção: O ator deve manter sua atenção focada no seu objetivo e nas suas ações, evitando distrações externas ou internas. Ele deve estar presente no momento e reagir às mudanças que ocorrem na cena.
- Relaxamento de músculos: O ator deve eliminar as tensões físicas e mentais que possam atrapalhar sua expressão. Ele deve respirar profundamente, alongar-se, aquecer a voz e o corpo, e estar consciente das partes do corpo que tendem a se contrair.
- Unidades e objetivos: O ator deve dividir o texto em unidades menores, que correspondem a mudanças de assunto, de emoção ou de situação. Cada unidade deve ter um objetivo próprio, que se relaciona com o objetivo geral da cena e da peça.
- Fé e senso de verdade: O ator deve acreditar nas circunstâncias imaginárias que criou e nas emoções que sente. Ele deve evitar ser falso ou mecânico, buscando sempre a sinceridade e a autenticidade.
- Memória emotiva: O ator deve usar suas próprias experiências emocionais para dar vida ao personagem. Ele deve lembrar-se de situações em que sentiu emoções semelhantes às do personagem e revivê-las no palco ou na tela.
- Adaptação: O ator deve estar preparado para se adaptar às condições variáveis do teatro ou do cinema, como o público, os colegas, os imprevistos, etc. Ele deve ser flexível e criativo, sem perder o foco no seu objetivo.
- Forças motivadoras internas: O ator deve entender as razões psicológicas que levam o personagem a agir de determinada forma. Ele deve conhecer a história do personagem, seus traços de personalidade, seus conflitos, seus desejos, seus medos, etc.
- A linha ininterrupta: O ator deve manter uma continuidade lógica e emocional entre as cenas, evitando saltos ou rupturas. Ele deve lembrar-se do que aconteceu antes e do que vai acontecer depois, criando uma ponte entre as unidades.
- O estado criativo interno: O ator deve entrar em um estado mental e emocional que favoreça a expressão artística. Ele deve estar relaxado, concentrado, imaginativo, sensível e receptivo.
- O superobjetivo: O ator deve ter uma visão geral da peça e do seu papel nela. Ele deve saber qual é o tema central da peça. Qual é a mensagem que o autor quer transmitir. Qual é o conflito principal, qual é o objetivo final do personagem, etc.
Conforme já lhe disse, em geral há o diretor entre nós que roteirizamos e aqueles que atuam. Mesmo assim, esteja sempre pronta/pronto para preencher todas as lacunas, dissolver dúvidas. Esteja disponível para compor cenários físicos e mentais. Eles são ferramentas para que atrizes e atores tenham em você toda o informação necessária para se preparar, como sugerem os princípios vistos acima.
Conhecer esses princípios vai te deixar um passo à frente das demandas dos intérpretes.
E onde desaguam esses rios?
Os três livros e as três mentes por trás dessas obras referenciais confluem para alguns conceitos em comum. A importância da análise do texto, da construção profunda do personagem, da vivência das emoções e da relação com o público. Esses conceitos podem ser úteis para escritores de roteiros que desejam apoiar atrizes e atores em suas tarefas de interpretação.
Por exemplo, ao escrever um roteiro, autores e autoras podem, em resumo:
- Fornecer pistas sobre a personalidade, o passado, os objetivos e os conflitos do personagem, para que o ator possa criar uma biografia consistente e coerente.
- Escrever diálogos que expressem as intenções, as subtextos e as ações do personagem, para que o ator possa usar sua voz e seu corpo para comunicar esses elementos.
- Descrever as cenas com detalhes sensoriais, emocionais e ambientais, para que o ator possa imaginar e vivenciar o contexto da história.
- Estabelecer uma conexão entre o tema do roteiro e a realidade social e pessoal do ator, para que ele possa se identificar e se engajar com a mensagem da obra.
- Colaborar com o ator durante o processo de ensaio e filmagem/palco, respeitando sua criatividade, sua autonomia e seu feedback.
Escrever para Grandes Atuações é um desafio que exige constantemente o estudo, a observação e a sensibilidade. Os livros e técnicas que mencionei neste artigo são apenas algumas das muitas fontes que podem te ajudar a desenvolverem suas habilidades e a criar personagens que permitam e inspirem as grandes interpretações que tanto comovem nossos corações.
Por Wagner RMS.